O dia do contador de histórias
Por Cristina Marrero
Coluna Lendo
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Cada um de nós carrega um contador de histórias… Contamos uma história quando falamos de uma lembrança de infância; quando repassamos uma receita de família que possui um segredo que a torna única; quando queremos transmitir a nossa experiência para um filho, um amigo.
Todo o tempo temos algo para contar e sem perceber vamos tecendo histórias, conectando fatos, amarrando idéias. Desde os primórdios o ser humano tem narrado suas histórias no intuito de preservar sua memória, transmitir conhecimentos e divertir. Antes da escrita e dos livros os contadores estavam ali, para salvar do esquecimento as tradições da família, a cultura de um povo.
Há pessoas que fazem da contação de histórias uma arte. Uma arte que sobrevive ao tempo, às novas tecnologias. Pessoas que resgatam, lá do fundo do baú, as histórias meio esquecidas, meio abandonadas. Pessoas que criam novas histórias, novos enredos que prendem a atenção de crianças e adultos. Pessoas que usam a voz e a imaginação como ferramentas e constróem mundos encantados. E no dia 20 de março é celebrado o Dia Internacional do Contador de Histórias.
As origens da celebração estão na Europa, mais especificamente na Suécia em 1991. A data marca o início da primavera no hemisfério norte, e do outono no hesmifério sul. No ano seguinte um novo evento marcou a data mas perdeu a força até 1997, quando um grupo de contadores de histórias da Austrália resolveu organizar uma celebração que durou uma semana inteira. Na mesma época no México e em outros países da América do Sul o dia 20 de março foi declarado o Dia Nacional dos Narradores.
A celebração de 2001 trouxe mais fólego ao evento graças à atuação da rede escandinava de contadores de histórias, o evento se espalhou pela Suécia, Noruega, Dinamarca, Finlândia e Estônia. Em 2003 o Canadá e outros países também adotaram a idéia. Quando a França aderiu à celebração em 2004 o número de países aumentou para 25 espalhados pelos cinco continentes, tornando-se assim o 20 de março o Dia Internacional do Contador de Histórias.
A cada ano a maioria dos eventos que se espalham pelo mundo estão ligados por um tema em comum. Depois do tema definido os contadores brindam os ouvintes com as mais variadas histórias. Os temas dos últimos anos foram os seguintes:
2004 – Pássaros
2005 – Pontes
2006 – A Lua
2007 – O Andarilho
2008 – Sonhos
2009 – Vizinhos
2010 – Luz e Sombra
2011 – Água
2012 – Árvores
No Brasil o evento é pouco divulgado mas há grupos que não medem esforços para manter a tradição e comemorar a data. Um exemplo é o da Biblioteca Lucília Minssen, localizada na Casa de Cultura Mario Quintana em Porto Alegre, RS, que desde 2009 vem promovendo este evento. Durante o dia são apresentadas sessões de contação de histórias e à noite acontecem palestras com escritores e contadores de histórias. Saiba mais, aqui.
No site Casa do Contador de Histórias há informações sobre cursos, oficinas e eventos para os interessados. Vale a pena dar uma olhadinha e prestigiar o trabalho destes artistas.
Abaixo, a reprodução do Credo do Contador de Histórias que também está no site.
Credo do Contador
“Creio no contador, como memória viva do amor e creio em seu filho, e no filho de seu filho, e no filho de seu filho, porque eles são a estirpe da voz, os criadores da terra e do céu das vozes: voz das vozes.Creio no contador, concebido nos espelhos da água, nascido humilde, tantas vezes negado, tantas vezes crucificado, porém nunca morto, nunca sepultado, porque sempre ressuscitou dos vivos congregando-os a ser: xamã, fabulista, contador de histórias…Creio na magia que na entrada das cavernas acendeu o primeiro fogo que reuniu como estrelas: o assombro, o tremor, a fé.
Creio no contador, que desde os tempos tribais a todos antecedeu para alcançar-nos por que é. Creio em suas mentiras fabulosas que escondem fabulosas certezas, no prodígio de sua invenção que vaticina realidades insuspeitas, e também creio na fantasia das verdades e nas verdades da fantasia, por isso creio nas sete léguas das botas, na serpente que antes foi inofensiva galinha, e no gato único no mundo, aquele gato que ao miar lançava moedas de ouro pela boca.
Creio nos contos de minha mãe, como minha mãe acreditou nos contos de minha avó, como minha avó acreditou nos contos de minha bisavó e recordo a voz que me contava para afastar a enfermidade e o medo, a voz que recordava os conselhos entesourados pela mãe para passá-los ao filho; — Não te desvies do teu caminho. — Nunca faças de noite o que possas te envergonhar pela manhã.
Creio no direito da criança escutar contos; e mais, creio no direito das crianças vivas dentro dos adultos de voltar a escutar os contos que povoaram sua infância; e mais, creio nos direitos dos adultos desde sempre e para sempre de escutar contos, outros novos contos.
Creio no gesto que conta, porque em sua mão desnuda, despojadamente desnuda, está o coelho.
Creio no tambor que redobra, porque o que haveria sido do mundo se não tivesse sido inventado o tambor, se a poesia não reinventasse o mundo dentro de nós, se o conto, ao improvisar o mundo, não o reordenasse, se o teatro não desvelasse a cerimônia secreta das máscaras e por isso…
Por que creio, narro oralmente.
Creio que contar é defender a pureza, defender a sabedoria da ingenuidade, defender a força da indagação.
Creio que contar é compartilhar a confiança, compartilhar a simplicidade como transparência da profundidade, compartilhar a linguagem comum da beleza.
Creio que contar É AMOR.”
Garzón Céspedes
“Creio no contador, como memória viva do amor e creio em seu filho, e no filho de seu filho, e no filho de seu filho, porque eles são a estirpe da voz, os criadores da terra e do céu das vozes: voz das vozes.Creio no contador, concebido nos espelhos da água, nascido humilde, tantas vezes negado, tantas vezes crucificado, porém nunca morto, nunca sepultado, porque sempre ressuscitou dos vivos congregando-os a ser: xamã, fabulista, contador de histórias…Creio na magia que na entrada das cavernas acendeu o primeiro fogo que reuniu como estrelas: o assombro, o tremor, a fé.
Creio no contador, que desde os tempos tribais a todos antecedeu para alcançar-nos por que é. Creio em suas mentiras fabulosas que escondem fabulosas certezas, no prodígio de sua invenção que vaticina realidades insuspeitas, e também creio na fantasia das verdades e nas verdades da fantasia, por isso creio nas sete léguas das botas, na serpente que antes foi inofensiva galinha, e no gato único no mundo, aquele gato que ao miar lançava moedas de ouro pela boca.
Creio nos contos de minha mãe, como minha mãe acreditou nos contos de minha avó, como minha avó acreditou nos contos de minha bisavó e recordo a voz que me contava para afastar a enfermidade e o medo, a voz que recordava os conselhos entesourados pela mãe para passá-los ao filho; — Não te desvies do teu caminho. — Nunca faças de noite o que possas te envergonhar pela manhã.
Creio no direito da criança escutar contos; e mais, creio no direito das crianças vivas dentro dos adultos de voltar a escutar os contos que povoaram sua infância; e mais, creio nos direitos dos adultos desde sempre e para sempre de escutar contos, outros novos contos.
Creio no gesto que conta, porque em sua mão desnuda, despojadamente desnuda, está o coelho.
Creio no tambor que redobra, porque o que haveria sido do mundo se não tivesse sido inventado o tambor, se a poesia não reinventasse o mundo dentro de nós, se o conto, ao improvisar o mundo, não o reordenasse, se o teatro não desvelasse a cerimônia secreta das máscaras e por isso…
Por que creio, narro oralmente.
Creio que contar é defender a pureza, defender a sabedoria da ingenuidade, defender a força da indagação.
Creio que contar é compartilhar a confiança, compartilhar a simplicidade como transparência da profundidade, compartilhar a linguagem comum da beleza.
Creio que contar É AMOR.”
Garzón Céspedes
Fonte:https://brasileirinhos.wordpress.com/2014/03/24/o-dia-do-contador-de-historias/
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